Aqui Há Tee é uma nova marca de t-shirts bordadas à mão, criada por estudantes, fruto do tédio no confinamento.
Marta segura a agulha entre o polegar e o indicador, aproxima o tecido do rosto para não falhar os traços, e faz os primeiros pontos bordados na t-shirt. Unidas as linhas, ler-se-á “Foi de Trivela”, em letras maiúsculas, amarelas, pouco simétricas. As criadoras da marca são Maria Leitão, Beatriz Isidro, conhecida por “Becas”, Marta Vicente, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela FCSH, e Rita Dias, aluna de Filosofia na mesma faculdade.
“O bordado é uma arte esquecida, sem dúvida. Os jovens já não querem nada disso”, assegura Maria José, avó de Rita. Foi Maria José a mestra de um workshop improvisado em sua casa, em Castelo Branco, para ensinar as quatro amigas de infância a bordar. Sempre foi costureira, aprendeu o ofício ainda criança, com a mãe, e, aos 75 anos, ainda não guardou a cesta de fitas, dedais e alfinetes.
Para as quatro albicastrenses, revitalizar a tradição e a cultura é uma prioridade. Rita integra um grupo de vozes tradicionais, onde canta as músicas que as avós lhe ensinavam. Marta planeia lançar um projeto de dinamização do interior português. “Partilhamos uma visão política e crítica da sociedade, e quisemos que as t-shirts a traduzissem. Bordadas, para que perpetuem uma tradição. Fez tudo sentido”.
Na primeira fase de criação das t-shirts, todas discutem ideias, cores, padrões. Apresentados os novos modelos nas redes sociais, a Rita desenha no tecido as frases encomendadas, e as blusas passam para as mãos da Marta e da Maria, estudante de medicina veterinária, que as bordam e embalam, prontas a enviar para todo o país. O trabalho “invisível” é da Becas, aluna de engenharia mecânica, que faz o design da marca.
Nos dias 3 e 4 de outubro, a Aqui Há Tee saiu à rua para se dar a conhecer ao público no armazém Anjos70, em Lisboa. As amigas montaram a sua primeira banca no mercado de roupa e acessórios que anima o primeiro fim de semana de cada mês, em Arroios. “Muitos estrangeiros nem sabiam o que estava escrito nas t-shirts, mas entusiasmavam-se por ser bordado, e queriam perceber as histórias por detrás das frases”, relembra Marta. Já o público português prefere a t-shirt que tem bordada a expressão “Vamos beber o drink de fim de tarde”, popularizada pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca.
Além das frases de António Costa e Graça Fonseca, a Aqui Há Tee decidiu “imortalizar” outro comentário, recebido nas suas redes sociais, que, afirmam, tem uma carga política igualmente forte: “Não gosto, não compro”. “É sobre viver em comunidade, sobre o ódio gratuito, principalmente nas redes sociais”, explica Rita.
De volta ao ritmo acelerado da faculdade, a prioridade das estudantes não é o sucesso da marca. Fazem-no por diversão, e para que as frases reivindicativas em que acreditam circulem na sociedade, ao peito de quem as veste. “As nossas t-shirts são uma forma de ativismo, e todo o ativismo é provocatório”.