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Iva Pires: “Temos de compreender porque é que estamos a deitar para o lixo alimentos que podíamos ter consumido”

Desperdiçar comida é também desperdiçar um conjunto de recursos, inclusive orçamento. O prémio Nobel da Paz de 2020, atribuído ao programa Alimentar Mundial da ONU, acentua ainda mais a importância do combate a este fenómeno, explicado por uma investigadora da NOVA FCSH à N+.

Iva Pires, investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da NOVA FCSH, aponta que vão para o lixo, em todo o mundo, cerca de 1300 milhões de toneladas de alimentos, ao mesmo tempo que há 820 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. Só em Portugal, estima-se que cada português desperdice 100 quilos de alimentos por ano, aponta a investigadora no ensaio sobre desperdício alimentar (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2018), tema que investiga desde 2010.

A pouca literacia sobre os rótulos alimentares, a falta de tempo e as políticas impostas pela União Europeia parecem ser parte do problema. A N+ foi perceber o porquê do desperdício alimentar, o que falta fazer e as possíveis soluções.

O tema do desperdício alimentar é muito complexo. Mas, em linhas gerais, no que é que consiste?

Quando falamos de desperdício alimentar estamos a falar de alimentos que foram produzidos com o objetivo de serem consumidos, mas por alguma razão acabaram no lixo. Isto de uma forma geral significa o desperdício alimentar.

O desperdício acontece, como nós chamamos, do campo ao garfo. Acontece ao longo de toda a cadeia, mas por razões completamente diferentes. E o desperdício também é, no fundo, um fenómeno que é transversal a todas as geografias e a todas as sociedades. Encontramos volumes elevados de desperdício nos países do Norte, nos países ricos, mas também volumes de perdas muito grandes em África ou na América Latina, por exemplo.

E é por isso que é preocupante, no fundo. É um processo complexo porque acontece precisamente do campo ao garfo e envolve vários segmentos da cadeia, envolve muitos stakeholders, ou atores sociais, com estratégias e interesses diferentes. Mas neste caso é muito importante termos uma visão holística, ou seja, nós não vamos conseguir resolver este problema complexo atuando apenas ao nível do consumidor, através de informação, consciencialização, quando, no fundo, temos todo o resto do desperdício que acontece a montante, antes do consumidor, e por isso é realmente importante ter esta perspetiva, esta visão mais holística, que acontece por razões muito diferentes.

No caso do campo, por exemplo, pode acontecer por causa de uma intempérie: um granizo, uma chuva mais intensa, e que estraga o pomar e a fruta fica sem condições de ser colhida e vendida. Isto é desperdício, porque no fundo a fruta estava em condições de ser consumida e por causa daquela intempérie não o é; dai não há muito a fazer, mas também acontece no campo quando as grandes cadeias de distribuição fazem uma triagem muito rigorosa daquilo que compram aos agricultores, deixando no campo a fruta feia, os legumes fora do tamanho, por exemplo.

Na verdade, os agricultores acabam por ficar com toneladas de alimentos que produziram, mas que não conseguem vender por causa desta ditadura da estética e dessa triagem muito apertada que as cadeias de distribuição fazem no momento em que encomendam os produtos, em que escolhem só aquela fruta bonita e que está dentro do calibre.

Iva Pires trabalha o tema do desperdício alimentar desde 2010.
Créditos: Ana Sofia Paiva

A questão estética dos alimentos é interessante. Já se começa a verificar algumas mudanças nas cadeias de supermercado, mas considera que é preciso uma reforma nestas normas? Dizemos que são frutos ou legumes feios…

Mas são igualmente nutritivos. Talvez o consumidor tenha associado uma fruta muito bonita a uma fruta com qualidade excecional, e uma pera mais pequenina, por exemplo, a conter menos valor nutritivo. Então entre essa e uma pera grande, a escolha vai para a maior. Isso é completamente errado. O tamanho não influencia o valor nutricional daquele alimento.

Nós, enquanto consumidores, não ficamos pior servidos se escolhermos uma fruta fora do tamanho, uma fruta feia. E lá está, uma campanha de informação muito vocacionada para esta questão era muito importante, porque esta ditadura da estética realmente contribui para toneladas de desperdício, quer a que fica no campo, quer a que fica nos mercados quando nós escolhemos as cenouras direitinhas e não damos oportunidade às cenouras tortas de serem compradas.

E sim, era importante ter mais informação. A própria União Europeia criou algumas destas regras e o interessante é que está aqui uma situação perversa, em que a própria legislação surgiu para proteger o consumidor. Surgiu para termos a certeza de que eu não estava a dar o mesmo valor por uma fruta grande ou uma fruta muito pequena, por exemplo, e, portanto, que eu estava a comprar por aquele valor frutas e legumes com calibres semelhantes. Mas acabou por ter um impacto perverso, até porque temos que pensar que a fruta é um produto natural.

Não podemos dizer a uma macieira que tem que produzir todas as maçãs com aquele calibre porque está definido na legislação. Isso não faz sentido, mas a própria União Europeia está a rever essa legislação, mas neste caso mais do que a legislação, temos que ser nós, enquanto consumidores, a ter uma atitude diferente.

Na verdade, se as cenouras são para a sopa, qual é o problema de serem feias ou tortas? Ou as maçãs serem um pouco mais pequenas? Posso comer duas se quiser. Portanto, nós consumidores, também temos de dar uma oportunidade a estas frutas e legumes. Inclusivamente já existe a Fruta Feia. É um imenso sucesso, no fundo foi o empreendedorismo, um pequeno negócio, que surgiu a partir da rejeição em relação às frutas e legumes. Eles próprios, os supermercados, também já têm áreas com a indicação dessas frutas e legumes, fora do tamanho ou do calibre.

Não podemos dizer a uma macieira que tem que produzir todas as maçãs com aquele calibre porque está definido na legislação. Isso não faz sentido.

No seu ensaio da FFMS refere que para além das famílias, também as cantinas das escolas e os hospitais são os que mais desperdiçam comida.

As famílias sim, seguramente, porque existem dados para isso. Em relação aos hospitais não sei se são a segunda categoria porque as cantinas das escolas estão a desperdiçar imenso. Nos hospitais também existe muito desperdício e é uma situação que merece reflexão. Se recorrentemente se deitam 100 quilos de alimentos por mês fora no hospital, então é preciso perceber porquê. Eu acho que falta também muita reflexibilidade. Nós temos que perceber e compreender porque é que estamos a deitar para o lixo alimentos que poderíamos ter consumido, mas não consumimos e deitamos fora.

E temos que perceber porque é que o deitei fora e porque é que não poderia ter feito qualquer outra coisa, não poderia ter usado noutra altura ou de melhor forma. E é preciso, realmente, reflexibilidade. Precisamos de refletir sobre este ato, o de deitar para o lixo, que neste momento é um bocadinho irrefletido, um bocadinho displicente. Acontece de uma forma tão natural: uma maçã estragou-se, vai para o lixo, um bocado de leite que sobrou, não me apetece, vai para o lixo. E o problema, no fundo, é que nós não temos a noção da escala quando acontece aos bocadinhos.

Como eu digo no meu livro, começamos com uma laranja, mas somos quatro milhões de famílias em Portugal. E se todas deitarem uma laranja fora todas as semanas, já são quatro milhões de laranjas. E isso é a ponta do icebergue. Acontece com as maçãs, com os iogurtes, e há esta falta de noção da dimensão, da escala, do problema. E aqui, mais uma vez, também as campanhas de informação e de sensibilização são muito importantes para que da próxima vez que eu esteja a deitar fora um alimento, perceba que estou a deitar recursos naturais fora, que estou a deitar fora a água consumida – e a água vai ser um recurso escasso neste século -, estou a deitar toda a energia que foi usada para produzir o alimento, que estou a deitar o dinheiro do meu orçamento para o lixo.

É preciso pensar nisso para realmente começarmos a mudar os nossos comportamentos e a reduzir um bocadinho esta atitude muito negligente que temos face aos alimentos.

O tema do desperdício alimentar na sociedade parece adormecer de tempos a tempos. Mas voltou a reacender-se quando um DJ português recolheu no lixo de um supermercado quilos de fruta e legumes. A respiga começa a ser mais visível como forma de protesto contra o consumo. Acha que as gerações mais novas começam a estar mais conscientes para este problema?

Eu penso que sim e realmente tenho uma grande esperança de que a nova geração tenha uma atitude face à alimentação que é diferente da nossa. E eu vejo isso também nos meus alunos de mestrado. Também percebo que eles sabem onde é que existem alimentos que não vão ser usados naquele dia, os supermercados doam, os restaurantes doam, e eles aproveitam e isso é importante para o seu orçamento, mas, ao mesmo tempo, estão a ajudar o ambiente porque se ninguém os consumir, eles vão para os aterros. Nós produzimos cada vez mais resíduos urbanos per capita e desses quase 40 por cento são resíduos orgânicos, têm que ver com produtos alimentares.

Estamos a sobrecarregar aterros com alimentos que em muitos casos poderiam ter sido consumidos com benefício nosso, do ambiente e do próprio sistema de recolha de resíduos urbanos das cidades. Eu penso que esta nova geração está mais informada e mais sensível e também vai mudando, no fundo, os seus comportamentos. Muitas vezes estar numa cidade que não a sua implica custos e, portanto, os alunos também gerem o seu orçamento de uma forma mais criteriosa, digamos.

Mas é verdade, também, que quando comecei a estudar o tema em 2010 quase não havia informação e agora, 10 anos depois, o que não falta são informações sobre o desperdício alimentar, dicas para usar todas as partes dos alimentos, transformar as sobras numa refeição. Existe muita informação na internet, os próprios chefes de cozinha estão pessoalmente muito empenhados na questão do desperdício e vão falando nos seus programas e criando novas receitas com as suas sobras. Portanto, sim, cada vez há mais pessoas envolvidas e isso é muito bom.

E o que é que acha da respiga como forma de combate ao capitalismo e à economia de consumo?

É evidente que é polémico, sobretudo por uma questão de segurança dos alimentos. É verdade que existe um conjunto muito apertado de regras em termos de segurança dos alimentos, regras que são europeias e algumas regras nacionais. Essas regras certificam ou dão-nos a certeza de que os alimentos que compramos no supermercado não nos vão fazer mal. A partir do momento em que o alimento está num caixote do lixo está num ambiente completamente diferente daquele onde deveriam ser vendidos e podem ficar contaminados.

O único problema que eu vejo é mesmo a questão da segurança do alimento e da possível contaminação. Não estando os alimentos contaminados não vejo problema. O ideal seria que os supermercados os doassem antes de os porem no caixote do lixo, ou seja, que essas pessoas que, por uma questão política, de combate à sociedade de consumo, à economia capitalista, não fossem obrigadas a ir buscá-los ao lixo. O ideal era que isso acontecesse porque a partir desse momento é a saúde dos indivíduos que está em causa.

O estudo feito em 2012, pela PERDA, em que a professora fez parte, revelou que com a crise, as famílias tornaram-se mais conscientes em relação a este tema. É curioso agora notar que, com a pandemia, as famílias reduziram novamente o desperdício que praticavam, segundo os dados de um estudo da DECO de 2020. Porque é que acha que há este esquecimento?

É verdade, nos momentos de crise há muito mais atenção à questão do desperdício, até por uma questão ética. Não faz sentido estarmos a deitar alimentos para o lixo quando na televisão vemos todos os dias milhares de famílias que não têm acesso aos alimentos, estão em situação de insegurança alimentar, e esta é uma questão ética que se coloca também à escala global. Nós estamos a deitar para o lixo, por ano, 1.3 mil milhões de toneladas de alimentos adequados ao consumo humano, no mundo, e ao mesmo tempo temos 820 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.

Esta questão ética é também muito importante e como é evidente nos momentos de crise é quando nós pensamos mais, que se calhar não devíamos estar a deitar alimentos fora quando há famílias que estão a passar por uma situação muito complicada. Mas depois passam esses momentos de crise, os próprios meios de comunicação social também dão atenção a outros temas. Por outro lado, para aquelas famílias com algum poder de consumo, a alimentação não pesa assim tanto no seu orçamento familiar. Já pesou mais no passado, neste momento não sei se pesa cerca de 10 por cento do orçamento familiar e, portanto, é tudo mais negligente, porque afinal só custou 90 cêntimos um quilo de fruta ou um euro e meio… parece tão pouco que depois daquilo tudo, se eu desperdiçar uma ou duas peças de fruta, não há problema. E esse problema pode ser, no fundo, uma questão relevante. As pessoas deixaram de perceber até porque as famílias também não fazem contas. Qual é a família que sabe quanto é que comprou e qual é a percentagem de alimentos que deitou fora?

Há estudos internacionais que apontam que entre 20 a 35 por cento dos alimentos comprados podem acabar no lixo. Os ingleses apontam para uma média de 700 libras por semana num ano de alimentos comprados, ou seja, do orçamento familiar que acaba no lixo porque os alimentos não foram utilizados. E de novo volto a referir esta questão que é a questão da informação, porque há muitos estudos que também apontam que a melhor forma de envolver as famílias no combate ao desperdício é mostrar quanto é que estão a deitar para o lixo, mas não é em peças de fruta, é em dinheiro!

Para isso é importante recolher dados e nós temos muito poucos dados sobre o desperdício alimentar em Portugal. “Quanto”, “onde”, “porquê” as famílias estão a desperdiçar alimentos, são questões para as quais ainda temos poucas respostas.

Em relação ao Covid-19, eu também lancei um inquérito viral sobre o desperdício com uns colegas de Espanha, a Rede Sem Desperdício, uma rede criada há pouco tempo, e nós recebemos 841 inquéritos e muitas famílias disseram que sim, (isto é a perceção, no fundo), de que tinham reduzido o seu desperdício alimentar por várias razões.

As pessoas deixam de perceber até porque as famílias também não fazem contas. Qual é a família que sabe quanto é que comprou e qual é a percentagem de alimentos que deitou fora?

Umas diziam que tinham mais tempo e o tempo é muito importante no nosso dia a dia, nos nossos ritmos de vida, nos horários muito intensos, desfasados entre os vários membros da família. E isso também contribui para o desperdício porque é muito difícil para quem está a cozinhar saber quem vai jantar. Um dos membros da família vinha jantar depois já não vem, depois outros almoçam nas cantinas e ninguém leva as sobras. O facto de também compramos grandes quantidades de produtos de 15 em 15 dias ou uma vez por semana também contribui para o desperdício das famílias.

Quanto maior quantidade comprarmos, maior é a probabilidade de parte desses alimentos acabarem no lixo. No passado as nossas avós, por exemplo, iam às mercearias e compravam todos os dias um bocadinho porque havia tempo para isso. E o tempo aqui é também uma variável muito importante e interessante, tanto que neste inquérito que fizemos, muitas pessoas disseram que tinham tido mais tempo para planear as compras, para organizar a despensa com datas, por exemplo: o que consumir antes e o que consumir depois, dar a volta no frigorífico e ver o que está feito para consumir. E isso, de facto, foram estratégias que eles usaram e que contribuíram para reduzir o desperdício.

A literacia na leitura dos rótulos é um assunto preocupante e que poucos conseguem distinguir. Qual é a diferença entre “consumir antes de” e “consumir de preferência até”?

É interessante porque isso não acontece apenas em Portugal. Um inquérito do Eurobarómetro colocou essa questão aos 27 países da União Europeia e em média, penso que mais de 40 por cento dos respondentes, não sabia distinguir entre “consumir de preferência até” e “consumir antes de”.

A própria União Europeia também já percebeu que isso é um dos fatores de desperdício porque na dúvida, a pessoa deita o alimento fora na primeira data. A União Europeia também já está a trabalhar essa questão dos rótulos e da informação sobre os prazos.

“Consumir de preferência até” usa-se naqueles produtos que podem ser consumidos depois dessa data. Enquanto que o “consumir até” àquela data utiliza-se para produtos perecíveis que não convêm ser consumidos depois daquela data.

Aqui já não se trata só de uma questão de perder um bocadinho o seu potencial, o sabor, acontece porque o alimento já pode estar na situação de ser perigoso para o consumo humano. Mas mesmo nesses produtos, por exemplo, a pessoa abre o iogurte e percebe se está estragado ou não. Porque esses prazos são prazos muito mais curtos do que aquilo que poderiam ser – e não se pretende arriscar na questão da saúde humana.

E a União Europeia impõe prazos muito apertados e por isso indica que ainda há alguma margem para, apesar de tudo, perceber se o queijo fresco ainda pode ser consumido, o iogurte, o leite, por exemplo.

O que as pessoas precisam é de encontrar estratégias para apenas deitar fora quando não há mais nenhuma oportunidade para dar àqueles alimentos. Por exemplo, quando vamos a um restaurante, por que não pedir uma caixa para trazer aquilo que ficou na travessa? Porque os alimentos que ficam na cozinha, o restaurante pode doá-los e muitos restaurantes já fazem isso. Mas os alimentos que são servidos no prato, só nós é que lhe podemos dar uma nova oportunidade.

Mas ainda há um bocadinho de vergonha.

Há algum estigma, mas eu penso que isso também já mudou muito. No início, aliás, as caixas chamavam-se Doggy bags nos Estados Unidos, durante a guerra, em que as pessoas pediam uma caixinha para levar para os seus animais de estimação. Mas depois começaram também a utilizar para consumo próprio. Para retirar um bocadinho desse estigma, por exemplo, os franceses chamam agora o Gourmet bag, os nórdicos chamam-lhe o Goddy bag. No princípio eu também pedia, e as pessoas e o empregado ficavam a olhar para mim.

Mas agora é o próprio empregado que quando está muita comida na travessa pergunta. Felizmente eu acho que isso já mudou e esse estigma associado está muito menor do que há cinco ou seis anos atrás.

Pela primeira vez em Portugal assinalou-se o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, que recorda as pessoas para esse problema.

E aconteceram muitas atividades aqui em Portugal e também a própria DECO teve um evento em streaming, a própria Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, as Nações Unidas, um pouco por todo o lado, de diversas formas foi comemorado este dia e tudo junto acaba por contribuir para esta maior consciencialização. É como eu digo, contribuiu para o ato de refletir sobre os alimentos que vão para o lixo.

Pode dar cinco dicas para evitar o desperdício alimentar no dia a dia?

Se vai a um restaurante e se sobraram alimentos, leve para casa. Se vai para férias ou vai passar um fim de semana prolongado, e tem o frigorífico cheio, porque é que não bate à porta do vizinho?

É interessante porque já há condomínios aqui em Lisboa que têm um cesto na entrada onde quem tem excesso pode deixar e quem precisa leva. Todos deixam e todos levam porque ninguém sabe quem deixa e quem leva. Mas o importante aqui é porque precisamente alguém que vem da aldeia e traz muitas frutas, muitas alfaces que se estragam num instante, pode dá-las.

Eu, por exemplo, costumo distribuir pelos vizinhos e isso acaba por fortalecer o espírito de comunidade, mas sobretudo evita que aqueles alimentos apodreçam em minha casa. E todos nós podemos fazer isso e numa outra altura alguém vai perguntar se queremos o excesso.

Uma outra é, no fundo, comprarmos menos quantidade de cada vez e planear bem as compras. O ideal seria planear a lista de compras em função do planeamento das refeições para a semana. Claro que isso exige tempo. Quando eu vou fazer estas compras já sei que vou usar esses alimentos ao longo da semana.

Não sendo possível, pelo menos planear a lista das compras e ela será tão mais eficiente quanto eu, por fazer a lista em casa, conseguir ir ver ao frigorífico, à dispensa o que é que ainda tenho para evitar comprar a mais. É importante também perceber que podemos usar todas as partes dos alimentos, como os talos das couves e da alface, que podem servir para a sopa.

Importante também é a forma como nós dispomos hoje a fruta lá em casa. Claro que uma taça é esteticamente mais bonita. Qual é o problema? É que as peras e maçãs que estão no fundo vão apodrecendo e nós não nos apercebemos porque vamos tirando as de cima e quando finalmente chegamos às outras, já estão podres.

Portanto prescindir aqui um bocadinho da estética e arranjar travessas bonitas. A forma como armazenamos os alimentos podem influenciar o desperdício. Se eu não os colocar uns de cima dos outros e os conseguir espalhar, consigo ver qual é o que está mais maduro para poder comer naquela altura, enquanto que se estiver numa taça muito bonita, acabamos por não conseguir ver.

Outra é também usar as sobras que têm em casa e fazer, por exemplo, um dia por semana chamado “o dia das sobras”, em que cada um come uma coisa diferente. O certo é que limpamos os tupperwares que estão no frigorífico e nada é desperdiçado. Tudo se recupera em nosso benefício e do ambiente.

Ana Sofia Paiva

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