A ideia nasceu da segunda licença de maternidade de uma das fundadoras, trabalharam sem escritório fixo, mas hoje empregam 16 pessoas. Da proatividade nasceu The Square, uma agência de relações públicas maioritariamente feminina e de antigas alunas da NOVA FCSH.
Sustentabilidade, honestidade, proatividade e não ter medo de arriscar. Estes são os pilares da empresa de relações públicas que surgiu em 2017. The Square nasceu da dupla “S” – Sara Proença e Sofia Pereira – que seis meses mais tarde passou a ser trio – com Sara São Miguel a juntar-se à equipa.
A agência com três pessoas, em 2017, passou para 16 em três anos. E o objetivo é continuar a crescer. Não desmesuradamente, indica Sara Proença, mas de uma maneira em que o know how da equipa equilibre a estrutura da empresa. “O investimento é em capital humano. Portanto, quando a máquina começa a mexer e os clientes a aparecer, a máquina começa a conseguir rodar. A nível de investimento não é uma coisa megalómana, a motivação é que sim” afirma.
Marcas conhecidas como o Baby Loop, de Carolina Patrocínio, a Lime, as trotinetes que se vêem quotidianamente nas ruas de Lisboa, a Bolt, a aplicação de motoristas, entre outras mais, são alguns dos clientes com que The Square trabalha.
Na equipa, seis das profissionais são antigas alunas da NOVA FCSH e apenas se contam dois homens na agência, o João e o António. Mas porquê mais mulheres e menos homens? “Curiosamente recebemos mais currículos de mulheres do que de homens”, responde Sofia. Para Sara, a diferença pode ter uma justificação: “Se calhar, assustam-se com as nossas caras”, brinca. Nesta área da comunicação, existem mais mulheres a enveredarem por este caminho do que homens, o que pode justificar a maior procura de trabalho por parte das mulheres.
A NOVA FCSH foi o ponto de partida para que o caminho destas seis antigas alunas – incluindo Sofia – se cruzassem no The Square. Beatriz Giestas, Raquel Alfredo, Rosa Marreiros, Leonor Carapuço e Matilde Ferreira são os nomes por trás dos resultados da agência.
“Na verdade, tive um percurso sinuoso na faculdade”, começa por contar Beatriz Giestas. Ingressou no curso de Ciências da Comunicação (CC), mas depressa se dececionou. Queria comunicação, mas as unidades curriculares teóricas fizeram-na duvidar. A matrícula na NOVA FCSH ficou suspensa e candidatou-se a Gestão, na NOVA SBE. Duas semanas depois, estava de volta à Avenida de Berna. Não só fundou em conjunto com uma amiga o Núcleo de Estudantes de Ciências da Comunicação (NECCOM) da faculdade, como conheceu Sofia Pereira numa das primeiras ações do núcleo. Quando decidiu o que queria dentro da área da comunicação, lembrou-se do The Square, concorreu em dezembro e no dia 7 de janeiro de 2019 começou a trabalhar.
[O The Square] é mesmo uma grande escola, é aprender a desenrascar-nos e contactar com as pessoas, aprender fazendo, que é o que acaba por não ser possível no curso
Ainda a terminar a licenciatura em CC, Raquel Alfredo conseguiu um estágio do The Square através da newsletter do Núcleo de Integração Profissional de Antigos Alunos (NIPAA) da NOVA FCSH. Antes disso, sempre apostou na vertente de relações públicas na licenciatura e ainda esteve uns meses no Observador a gerir as redes sociais, mas achou muito “monótono” e algo que não queria fazer para a vida. Ainda antes de acabar a licenciatura, em 2019, soube da vaga e ficou a estagiar como account. “É bom para os que ainda lá estão [a acabar o curso] que é possível [arranjar emprego]”.
Uma coisa muito boa nesta empresa é que apesar de estar aqui há relativamente pouco tempo é nos dado desde muito cedo responsabilidades que nos fazem crescer e temos sempre muito acompanhamento
Rosa Marreiros terminou a licenciatura em CC em 2014. “Foi uma mais-valia, deu-me capacidade para pensar, e capacidade crítica ainda que não nos dê na prática capacidades de trabalho”. No caminho foi colecionando experiências e conhecimentos na área. Enquanto estagiava na agência Creative Minds fez uma pós-graduação em Marketing, no Instituto Superior de Gestão e Economia da Universidade de Lisboa (ISEG). Passados três anos, surgiu a oportunidade de ir para The Square e Rosa está na agência desde 2019 a fazer assessoria de imprensa.
Elas acreditam muito em nós, têm muita paciência para nos explicar qual é o caminho. São todas as ferramentas que precisamos para nos fazer crescer e também [há] espaço para propor as nossas ideias e isso faz-nos crescer
A primeira experiência de estágio de Leonor Carapuço está a “correr bem”, afirma. Terminou a licenciatura em CC em 2019 e em agosto enviou uma candidatura espontânea e ficou na agência. Começou em outubro de 2019.
A minha função é mesmo trabalhar, não é a de um estagiário que serve cafés. É pôr as mãos na massa e é a melhor forma de aprender
Matilde Ferreira ainda está a concluir o mestrado em Jornalismo na NOVA FCSH, mas trabalha desde março de 2019 nas redes sociais do The Square. Ainda não esqueceu o jornalismo, a sua primeira grande paixão, mas o caminho tem-na levado para a área das relações públicas. Estagiou na Antena 1 e passou por uma empresa de produção de conteúdos na área da saúde e mais tarde trabalhou nas redes sociais de outra agência. Não gostou e, motivada por uma colega do The Square, candidatou-se à agência e ficou com o cargo.
A própria ideia de vir ver crescer uma empresa que estava a começar e também fazer parte entusiasmou-me, e acho que é isso que também marca aqui a diferença no The Square
Sofia entrou em Ciências da Comunicação em 2012 e apenas sabia uma coisa: não queria jornalismo. No segundo ano começou a ter a uma “crise” e a duvidar do curso que tinha escolhido. Decidiu começar a ter atividades fora do curso, como voluntariado e isso “ajudou um bocado para não ser só o curso em si, porque é muito teórico. Só para teres uma noção eu nem fiz a cadeira de relações públicas e trabalho em RP”, confidencia Sofia a rir.
Mas as “estrelas alinharam-se” depois de ter uma unidade curricular com um antigo professor da NOVA FCSH, Carlos Pacheco, que lhe conseguiu um estágio numa agência. Terminado esse estágio, Sofia entrou noutra agência, na qual trabalhou dois anos e conheceu Sara Proença – que foi sua chefe – e o resto é história.
O início do Quadrado
Foi preciso uma licença de maternidade e uma certa insatisfação no anterior trabalho para que esta fórmula desse origem ao The Square. Sara estava na segunda licença de maternidade – atualmente tem três filhas – e pensou na ideia de criar uma empresa à sua medida, ao aplicar os conhecimentos dos vários anos de experiência.
A empreendedora decidiu apresentar a proposta a Sofia porque “não há negócios, não há projetos, não há nada na vida que se faça sem pessoas”. Sofia, que na anterior agência fazia parte da equipa de Sara, não pensou duas vezes quando lhe foi feita a proposta.
“A Sofia é uma pessoa super empreendedora, já era muito boa operacional quando estava na minha equipa, e não tive a menor dúvida [em apresentar-lhe a ideia]”, conta Sara a sorrir e a relembrar o início deste desafio. “Com a minha idade, também não tinha muito para arriscar. Ou é agora ou não é. É a altura perfeita. Quando a Sara me disse, aceitei logo”, afirma Sofia com entusiasmo.
Do apoio crucial do marido de Sara até à ausência do medo em arriscar, as “propostas com cheiro a fritos do Campo Pequeno”, soltam uma gargalhada ao contar, começaram a surgir e a pescar os primeiros clientes. Contudo, Sara não teve ordenado durante quase dois anos para garantir os salários de Sofia e de Sara. “Quando começamos uma empresa, não podemos pensar só em dinheiro”, aponta.
“A primeira proposta que fizemos foi para um cliente super formal, fomos à reunião com ele, todas arranjadas” conta Sofia “e depois estávamos a mandar a proposta no meio do Campo Pequeno, no meio do cheiro dos fritos” soltam uma gargalhada. No final, não ganharam o cliente – e não foi por culpa dos fritos, garante Sofia – e isso não as desmotivou, continuaram no caminho.
As duas começaram por comprar as máquinas que precisavam, computadores e telemóveis. O maior investimento nestas empresas, garante Sara, é no know how das pessoas e não nas máquinas. Contudo, Sara confessa que foi difícil no início: “Eu chorei quando fui comprar o computador, quem me ajudou foi a Sofia”, relembra com entusiasmo. “Se fosse só nos computadores, eu teria logo desistido” brinca.
Começar do nada não é um mar de rosas, confidencia Sofia, porque tudo é feito pela lei do Do It Yoursef (Faça você mesmo). Depois de trabalharem no Campo Pequeno, na Padaria Portuguesa e no Palácio das Galveias, o “escritório” de ambas encontrou outro lar: a própria casa de Sara.
E a fundadora também estava em processo de remodelação, o que tornou o trabalho das duas ainda mais caricato e caótico: “Quando mudamos para a casa da Sara, ela também se estava a mudar, nós trabalhávamos no meio da sala cheia de pó, com uma banheira enorme no meio da sala e com ucranianos a sair e a entrar para as obras. Surreal, mesmo”, recorda Sofia a rir.
Sair da zona de conforto foi uma das primeiras regras das fundadoras. Não gostam de ficar paradas e no primeiro Web Summit, mesmo sem bilhete, decidiram ir para a porta com um cartaz. “Ficamos à entrada nos três dias, uma pessoa estava sempre lá. E o que é que nós fazíamos? Chamávamos as pessoas e dali saíram algumas reuniões”, aponta Sofia.
E porquê o nome The Square, um quadrado aberto? Há três razões que são explicadas por Sara. A primeira é por representar os vários pontos ao redor da Praça do Campo Pequeno, os vários antigos “escritórios” da agência. O segundo, por Sara não acreditar na máxima de que é preciso ter “ideias fora da caixa”. São sim, na sua visão, precisas “ideias bem concretizadas” o que para as fundadoras são um quadrado aberto, para deixar espaço à criatividade. Por último, é o esforço que a agência tenta fazer ao “dar um pouco mais de exatidão à área da comunicação, mais métricas, mais números, mais retorno no investimento isto tem haver com um quadrado, e o quadrado é uma figura geométrica matemática”.
De uma certeza que quase podia ser matemática, nasceu uma agência de relações públicas que em três anos passou de três pessoas para 16, e já mudou de escritório duas vezes. Os números não enganam e a resiliência de Sara e Sofia continua a dar frutos e não pretende ficar por aqui. Quer continuar a crescer.